A CARNE COMO ALIMENTO NA BÍBLIA E TESTEMUNHOS
Pr. Demóstenes Neves da Silva·
O presente material tem por objetivo
apresentar citações de Ellen G. White[1] sobre as excessões para o uso da carne como alimento.
Não se propõe a advogar ou promover a desconsideração para com as advertências
de se abster do alimento cárneo. Por outro lado, as citações que serão
apresentadas conferem com a filosofia bíblica sobre o assunto, por isso a
resumida abordagem sobre o plano de Deus, na Bíblia, sobre o uso da carne.
Também é nosso propósito destacar que a
abstinência do alimento cárneo não é prova ou teste de comunhão na igreja, nem
para membros e nem para pastores, bem como não há regra férrea nessa questão.
A abstenção do alimento cárneo tem sido
alvo de muito extremismo e fanatismo dentro da igreja, através do qual muitos
têm levantado a bandeira, ainda que ingenuamente, da salvação pelas obras (no
caso, a abstenção do alimento cárneo). CSRA, 195, 196, 209, 210, 211, 353, 359.
Numa época de grande condescendência com
o apetite, os que têm luz sobre esse assunto da reforma dos hábitos de saúde
deveriam ser simpáticos e demonstrar espírito de tolerância e amor para com
aqueles que ainda não se “enquadraram” no seu padrão de temperança.
Mesmo os pastores, mais exigidos como
exemplo em algumas citações, são, de fato, instados por E. G. White dentro do
princípio apresentado ao longo deste trabalho, de que na questão da temperança
devem ser exemplo, mas que o assunto é pessoal e não é teste mesmo para eles.
Comecemos pelo plano bíblico da questão do alimento cárneo:
01
– O Plano Original de Deus excluía o alimento cárneo (Gen. 1. 29-30).
Havia abundância de alimentos em quantidade e qualidade. Nem os homens, nem os
animais deveriam comer carne. Mesmo após o pecado entrar no mundo o alimento
cárneo não foi autorizado por Deus. À entrada do pecado Deus estendeu o
cardápio original adicionando-lhe, além das frutas e sementes a “erva do
campo”. (Gen. 1:29; 3:18).
02
– Depois do Dilúvio. Em Gen. 9. 3-4
vemos que toda vegetação útil estava destruída. As águas do dilúvio se
secaram após um ano, um mês e um dia, e a terra só secou depois de mais um mês
e vinte e seis dias. Compare Gen. 7.11 com 8.13-14. Portanto, não houve tempo
para as arvores frutíferas crescerem e produzirem. A liberação divina para
comer carne abrangia animais limpos já providos para esse fim (Gen. 7.2-3).
03
– O Plano de Deus para Israel. Exo. 16. 2-4, mostra que quando o povo
murmurou pedindo carne Deus respondeu a contra gosto, dando-lhes cordonizes (V.
12,13) mas também introduziu o alimento ideal, o maná (V. 15a – 21). A
desaprovação divina ficou evidente quanto ao alimento cárneo por varias razões,
duas delas estão aqui destacadas:
A
– Somente o maná permaneceu, as cordonizes foram retiradas.
B
– Quando o povo pediu mais carne esta lhe foi dada, mas junto com a
conseqüência da morte. Num. 11. 4-19 e 31-34.
Não
era plano divino que se usasse a carne como alimento, mas devido ao desejo do
povo o Senhor indicou o tipo de carne que deveria ser consumida em Lev. 11.
Como já havia feito nos dias de Noé (Gen 7. 2-3).
Por
outro lado, embora o Senhor desse o maná por 40 anos ao Seu povo no deserto,
permitiu que após haver experimentado os benefícios desse novo regime sem carne,
pudessem decidir por si mesmos como seria sua alimentação liberando e
regulamentando o uso da carne de animais limpos. O único ponto no qual Deus foi
irredutível foi na questão dos animais imundos.
04
– Deus compreendia e aceitava as pessoas apesar de terem um regime alimentar
não vegetariano:
A
– Jesus multiplicou peixes para a multidão duas vezes, demonstrando compreensão
divina neste assunto e que a aceitação do crente no Reino de Deus é
independente do assunto da carne salvo por condescendência com o apetite que
leva a gula e exclui do Reino (Gal. 5.21).
B
– Jesus comendo peixe com os discípulos (Luc. 24. 41-43 e DTN, 768, 1), mostrou
a compreensão e paciência de Deus.
C
– A recomendação apostólica estava rigidamente ligada ao texto bíblico daí condenar
o sangue, a carne sufocada, evitar as sacrificadas aos ídolos, porém não
proibia o uso da carne limpa (Atos 15. 19-20, 29)
05
– Em nossos dias temos na Igreja Adventista a orientação profética sobre o
assunto da santidade do corpo, e da saúde que abrange também o tema do uso da
carne.
Vejamos alguns pontos relevantes:
I – Malefícios da Carne:
a
– A condescendência com o apetite gera doença e temos o exemplo do antigo
Israel não renunciando o desejo de carne, vindo então a peste. CSS, 141.
b
– Uma reforma é necessária nesta questão da saúde, pois a carne põe em perigo a
saúde física, mental e espiritual. CSS, 575.
c
– Os meio convertidos nesta questão sairão definitivamente do povo de Deus.
CSS, 575; CSRA, 382.
d
– Moléstias dos animais são transmissíveis. CSRA, 384.
e
– Estimulantes das paixões carnais junto com a manteiga. CSRA, 48 e 395.
f
– Câncer transmitido pela carne. CSRA, 384 e 388.
g
– Inabilita (o uso da carne) para cargos nas instituições, quando a pessoa
rejeita obedecer à luz que têm. CSRA 415 e 416.
h - Há influência
negativa dos carnívoros sobre as pessoas. CSRA, 404.
Muitos
outros pontos negativos sobre a carne, alimentos animais e outros danosos à
saúde poderiam ser aqui adicionados, estes porém, foram apresentados como uma
amostra da seriedade da questão.
II – Que atitude devemos tomar em
relação ao tema da saúde (e carne, neste estudo) e como nos posicionar em
relação a pessoas que consomem carne?
“Se
a reforma pró-saúde com todo o seu rigor for ensinada àqueles cujas
circunstâncias não lhes permitem sua adoção, ter-se-á produzido mais dano do
que bem”.CSS, 137.
Há
realmente alguns que vivem em circunstâncias que os impedem de adotarem
plenamente a reforma. Portanto, trata-se de um princípio que deve ser ajustado
a cada indivíduo em particular. É uma questão pessoal. CSRA, 395:
“O regime cárneo não é o mais são, e
todavia eu não tomaria a atitude de que ele deva ser rejeitado por toda
pessoa.”
Vejamos:
a
– Tuberculosos desenganados – não devem ser forçados a deixar a carne. CSRA
292,2:
“Os
tuberculosos que se acham em decidido caminho da sepultura, não devem fazer
mudanças particulares a esse respeito, mas seja exercido cuidado para obter
carne de animais o mais saudáveis possível.”
b
– Pessoas que sofrem de tumores não devem ser forçadas a deixar a carne. CSRA,
292, 3:
“As pessoas que têm tumores a minar-lhes a vida, não devem ser carregadas com a questão
de deverem ou não abandonar o uso da carne. Cuide-se de não coagir a uma
resolução quanto a esse assunto. Não ajuda ao caso forçar a mudanças, mas
prejudicará aos princípios de abstinência da carne. Façam-se palestras na sala
de visitas. Eduque-se a mente, mas não se force a pessoa alguma, pois tal
reforma feita sob pressão é inútil....”
c
– Vários tipos de doenças e exaustão (esgotamento). CSRA, 394:
“Em certos
casos de doenças ou exaustão,
poderá ser considerado melhor usar alguma carne, mas grande cuidado deve ser
tomado para adquirir carne de animais sadios.”
d -
Deve-se considerar a emergência como no exemplo de E. G. White. CSRA,
394:
“Quando não me foi possível obter o alimento de que necessitava, comi um
pouco de carne algumas vezes; mas estou ficando cada vez mais atemorizada de
fazê-lo.”
e
– Órgãos digestivos fracos. CSRA, 395:
“Os que têm fracos órgãos digestivos, podem muitas vezes comer carne, quando
não lhe possível ingerir verduras, frutas e mingaus.”
f
– Hábitos não devem ser mudados precipitadamente. CSRA, 462:
“Hábitos que foram por toda a vida
ensinados como sendo direitos, não devem
ser mudados por medidas rudes ou precipitadas.”
g
– Pobres não devem ser coagidos a deixar a carne. CSRA, 463:
“Sinto sincera comiseração para com
famílias que chegaram à fé recentemente, e que se sentem tão premidas pela pobreza que não sabem de onde lhes virá a próxima
refeição. Não é meu dever fazer-lhes discursos sobre o comer saudável. Há tempo
de falar, e tempo de calar.”
h
– Carne não é teste. CSRA, 462. Nem os que comem são os maiores pecadores:
“Devemos considerar a situação do povo, e
o poder de hábitos e práticas de vidas
inteiras, e devemos ser cautelosos em não impor aos outros nossas idéias, como se esta questão fosse um teste, e
os que comem carne fossem os maiores pecadores.”
i
– Ninguém deve ser consciência do outro nesta questão. CSRA, 463:
“Nunca julguei ser meu dever dizer que
ninguém deveria provar carne, sob quaisquer circunstâncias. Dizer isto, quando
o povo tem sido educado a viver de comer carne em tão grande medida, seria
levar ao extremo a questão. Nunca senti ser dever meu fazer asserções
arrasadoras. O que tenho dito, disse-o sob uma intuição do dever, mas tenho
sido cautelosa em minhas afirmações, porque
não queria dar ocasião para qualquer pessoa ser consciência para outro.
...”
j
– Não há regra estabelecida nessa questão (CSRA, 95,3; 404:2):
“Não
estabelecemos regra alguma para ser seguida no regime alimentar, mas
dizemos que nos países onde abundam as frutas, cereais e nozes, os alimentos
cárneos não constituem alimentação própria para o povo de Deus.”
“Uma pessoa não pode ditar uma estrita
regra para outra. Cada um deve exercer discernimento e domínio, agindo por
princípio.” CSRA, 139
(Mas é facultativa onde não haja
abundância de vegetais. CBV, 103)
m – Não é prova de comunhão (CSRA
404,3):
“Não nos compete fazer do uso da alimentação cárnea uma prova de comunhão; devemos, porém, considerar a influência que
crentes professos, que fazem uso da carne, têm sobre outras pessoas.”
o
– Não é uma prova. Ninguém deve ser forçado a abandonar o seu uso, o ministro que comer é responsável pelas
conseqüências sobre o seu organismo e não deve combater o vegetarianismo nem a
reforma pró-saúde, nem dar impressão de que Deus não quer que se deixe a carne.
CSRA 401,2:
“Se bem que não tornemos o uso do alimento cárneo uma prova, se bem que não
queiramos forçar ninguém a abandonar seu uso, todavia é nosso dever instar
para que ministro algum da associação faça pouco da mensagem de reforma nesse
ponto, ou a ela se oponha. ... Ele [o Senhor] nos deu a obra de proclamar a
mensagem da reforma pró-saúde, e se não podeis avançar nas fileiras dos que a
estão proclamando, não o deveis tornar
notório. Neutralizando o trabalho de vosso co-obreiros, que estão ensinando
a reforma pró-saúde, estais fora da ordem, operando do lado contrário.”
p
– Quando assentados a uma mesa onde haja carne não devemos vibrar um ataque
contra os que a usam, mas deixá-la intocada quanto a nós, e se perguntarem à
razão de assim proceder, devemos explicar o motivo de não a usarmos. CSRA,
462,2:
“Quando assentados a uma mesa onde haja
carne, não devemos vibrar um ataque
contra os que a usam, mas deixá-la intocada quanto a nós, e se nos perguntarem
a razão de assim proceder, devemos de maneira bondosa explicar o motivo de não
a usarmos.”
Em face do que foi abordado até aqui
introduziremos, agora, um quadro apresentando a atitude de E. G. White em
relação aos pastores e administradores que não apoiavam a reforma pró-saúde
chegando, alguns, até a zombar dela e combatê-la. A razão evidente era que,
entre outras coisas, não pretendiam restringir a condescendência com o apetite
nessa questão.
Ela não estava falando dos que eventual e
circunstancialmente comiam carne, como ocorreu com ela mesma, ou daqueles que
podiam enquadrar-se numa das exceções já mencionadas neste material, mas
àqueles que optaram, devido ao apetite pervertido, por comer carne
regularmente, em desrespeito e pouco caso com a luz recebida, e até combater a
reforma pró-saúde. Vejamos:
OS MINISTROS E O
ALIMENTO CÁRNEO
O DEVER DOS
MINISTROS
1. Devem ser estritamente temperantes no comer e beber. CSRA, 382.
2. Devem despertar o povo e dar bom exemplo em não comer carne. CSRA, 399.
3. A responsabilidade de vencer o apetite pesa sobre todos e em especial sobre os ministros. CSRA, 54.
QUAL
O RESULTADO DE DESOBEDECER
4. Não serem
separados como mestres do povo
enquanto ensino e exemplo contradiz,
por falta de interesse devido à
condescendência, a mensagem sobre a reforma pró-saúde. CSRA, 453,454.
5. Unir-se a outros em come-la, pode, possivelmente, abalar a confiança no
ministro. CSRA, 402.
6. A condescendência
de ministros com o apetite pervertido
nessa questão é desprezo pelas advertências de Deus e prejuízo para a saúde.
CSRA, 404.
A
ATITUDE DE ALGUNS MINISTROS NOS DIAS DE E. G. WHITE
7. Alguns ministros demonstravam pouco interesse na reforma pró-saúde devido a condescendência. CSRA, 453.
8. Muitas pessoas e alguns ministro têm demonstrado pouca consideração para com a reforma
de saúde, enquanto departamento, por não verem a relação dela com a mensagem.
CSRA, 73
9. Em 1904 muitos ministros
não seguiam a reforma pró-saúde apesar da luz dada. CSRA, 288.
RECOMENDAÇÃO DE E. G. WHITE DE COMO AGIR
10. Não é uma prova
e nem é forçado o ministro deixar a
carne, mas ele não deve se opor e nem
fazer pouco caso do assunto. Se não pode avançar junto com os que proclamam
a reforma pró-saúde não deve fazer isso notório. CSRA, 401.
Portanto, a questão da carne como
alimento é pessoal, não é ponto de comunhão e teste de fé na igreja, nem para membros, nem para ministros, contanto que não combatam a reforma pró-saúde que deve
ser apresentada com tato, sem forçar as pessoas. Ao mesmo tempo deve-se
entender as exceções que provam que o assunto não é ponto de salvação, a não
ser que a pessoa esteja comendo-a por condescendência com o apetite (gula), e
isto é aplicável a qualquer outro alimento.
Danos físico que repercutem na vida
espiritual e eficiência para a obra de Deus são resultado da condescendência
com o apetite pervertido no regime alimentar. O único caminho seguro é seguir a
luz recebida para os nossos dias quando tantas doenças afetam os animais e a
perversão dos sentido toma conta do mundo.
É bastante cada um, em sinceridade,
seguir a diretriz original:
Antes do pecado: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as
ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as
árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.” Gn 1:29
Após o pecado: “Ela [a terra] produzirá também cardos e abrolhos, e
tu comerás a erva do campo.” Gn 3:18
[1] Todos os
grifos nas citações de Ellen G. White foram adicionados para destacar os pontos
em questão.
Autor: Demóstenes Neves da Silva, Mestre em Teologia, é Professor do SALT-IAENE.
17:24
Denismark Abrantes
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