domingo, 7 de janeiro de 2018


Processos biológicos ultracomplexos que superam nossas tecnologias de ponta foram inteligentemente criados pelo ser humano. Mas esses assombrosos processos biológicos que, inclusive, inspiram nossas pesquisas são fruto do acaso e de mutações aleatórias filtradas pela seleção natural cega. Isso faz sentido?
Segundo artigo publicado no site Inovação Tecnológica, “toda a vida na Terra executa cálculos e todos os cálculos parecem requerer energia. Esse assunto tem sido alvo de bastante controvérsia ultimamente, envolvendo o chamado Limite de Landauer. Alguns afirmam que pode ser possível fazer computação sem consumo de energia, enquanto outros acreditam que o Limite de Landauer não é tão limitador assim”.
Christopher Kempes, do Instituto Santa Fé, nos EUA, reuniu-se com colegas para pesquisar o custo energético da computação biológica. “Da ameba unicelular aos organismos multicelulares, como os seres humanos, um dos cálculos biológicos mais básicos, comuns em toda a vida, é a ‘tradução’ – processar a informação em um genoma e escrevê-la na forma de uma proteína”, explica o site. A equipe de Kempes conseguiu demonstrar que a tradução é um processo altamente eficiente do ponto de vista energético.
Como acredita na teoria da evolução, Kempes argumenta que é preciso entender as restrições a essa evolução, algo que, segundo ele, ainda não foi devidamente estudado. “Uma restrição que não foi amplamente estudada até agora é como as leis da termodinâmica restringem a função biológica, o que poderá nos dizer se a seleção natural favoreceu organismos com alta eficiência computacional”.
Kempes revela: “O que descobrimos é que a tradução biológica é cerca de 20 vezes menos eficiente do que o limite físico inferior absoluto. E isso é cerca de 100 mil vezes mais eficiente do que um computador”.
O próximo passo da equipe, segundo o Inovação Tecnológica, será ampliar seus cálculos para verificar a eficiência termodinâmica de cálculos biológicos de alto nível, como o pensamento, e, finalmente, tentar entender a importância que a eficiência energética tem para a seleção natural. “Em última análise, nós queremos conectar tudo isso com a teoria da ciência da computação, não só para explorar esse tipo de coisa para a ciência da computação, mas também para ver se a teoria da ciência da computação tem algo a nos dizer sobre as células”, disse o professor David Wolpert, coautor da pesquisa.
Fruto do acaso?
Se você não soubesse que o computador teve um criador e visse, de repente, em sua frente um PC de última geração, o que concluiria? Que aquele monte de componentes eletrônicos, cabos, peças metálicas e de plástico com utilidade planejada poderia ser fruto do acaso? Depois de ligar o aparelho e testar suas “habilidades” impressionantes, você teria coragem de pensar que os programas que rodam nele, que a informação complexa de que eles dependem para funcionar teriam simplesmente aparecido em algum momento no passado e se tornado espontaneamente mais complexa com o tempo?
Tenho certeza de que você naturalmente elogiaria os criadores de uma máquina tão maravilhosa e útil. Como, então, os pesquisadores do Instituto Santa Fé podem estudar mecanismos biológicos e “maquinário” tremendamente mais complexo que os nossos melhores computadores e ainda falar em evolução? Todos sabemos que a tese da macroevolução pressupõe o surgimento da informação e da vida por acaso. É ou não é muita incoerência?
Kempes afirma que a pesquisa dele “poderá nos dizer se a seleção natural favoreceu organismos com alta eficiência computacional”. Só que se esquece de mencionar que a seleção natural age sobre características já existentes. Portanto, permanece a dúvida: De onde surgiram esses organismos com alta eficiência computacional que acabaram sendo selecionados? Darwin ajudou a explicar como os organismos mais “aptos” sobrevivem, mas nada foi capaz de dizer, de fato, sobre de onde esses organismos vieram, o que, de certa forma, invalida até o título de sua obra mais famosa: A Origem das Espécies.
Na verdade, o que se sabe é que a seleção natural não é capaz de aumentar a complexidade, ao contrário do que creem darwinistas como Richard Dawkins, que, em seu livro Deus, um Delírio, afirma que a seleção natural “elevou a vida da simplicidade primeva a altitudes estonteantes de complexidade, beleza e aparente desígnio que hoje nos deslumbram”.
Para haver aumento de complexidade seria necessário haver também aumento de informação genética para possibilitar o surgimento de novos órgãos funcionais e novos planos corporais. Afirmar algo dessa natureza seria como dizer que computadores e seus programas poderiam aparecer sem a ação de um ser inteligente que fornecesse a informação e criasse as peças necessárias ao funcionamento do aparelho.
Mas aí já seria preciso ter muita fé!





“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”. (Colossenses 2:16)
Tradicionalmente, como igreja, ensinamos que os “sábados” mencionados por Paulo em Colossenses 2:16 se referem aos sábados “cerimoniais”, ou seja, festas israelitas também chamadas de “sábados” (ver Levítico 23) pelo fato de haver descanso inclusive em tais celebrações.
Em 2008, Ron du Preez, em um estudo exegético, linguístico, estrutural, sintático e intertextual de Colossenses 2:16, pareceu comprovar essa tese original ensinada pelos adventistas e por teólogos batistas como Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, no Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible. Segundo Preez, os “dias de festas” dizem respeito às “três festas de peregrinação da Páscoa, do Pentecostes e dos Tabernáculos”; a “lua nova” se refere à festa mensal; e os “sábados” se referem às três celebrações adicionais das “Trombetas”, do “Dia da Expiação” e dos “Anos Sabáticos”.[1]
Todavia, os teólogos adventistas especialistas no Novo Testamento, entre eles Samuele Bacchiocchi[2] e Wilson Paroschi (em suas excelentes aulas de teologia), têm interpretado Colossenses 2:16 de maneira diferente. Para eles, a ordem “dias de festa, lua nova e sábados” se refere a três períodos: um anual (no qual os sábados cerimoniais já estão incluídos), um mensal (a festa de Lua Nova era mensal) e outro semanal (sábado do sétimo dia). Isso parece ser apoiado por outros textos do Antigo Testamento onde a mesma sequência mensal-anual-semanal aparece: Isaías 1:13, Ezequiel 45:17, Oséias 2:11, etc.[3]
Isso significa, então, que Paulo estaria abolindo o quarto mandamento? Com certeza, não. Até mesmo teólogos observadores do domingo reconhecem isso, pois Paulo lida com um problema muito específico na igreja de Colossos, que envolvia ensinos heréticos e de natureza gnóstica, entre eles a adoração a anjos (Colossenses 2:18) e rigor ascético para com o corpo (Colossenses 2:20-23).
Em Colossenses 2:16, Paulo não estaria atacando os dias festivos e o sábado semanal em si, mas sendo contra uma heresia que colocava tais celebrações num contexto pagão, ofuscando desse modo a pessoa de Jesus Cristo (cf. Colossenses 2:17).
Veja o que diz o comentário do teólogo protestante Ralph P. Martin, publicado pela editora Vida Nova em 1984:
“Os dias santos, sejam anuais, mensais ou semanais, também eram assunto de controvérsia em Colossos. Aqui, também, o princípio radical deve ser notado. Paulo não está condenando o uso dos dias e tempos sagrados. Nem tem em mente a observância judaica destes dias como uma expressão da obediência de Israel à lei de Deus e um sinal de sua eleição […] O que é seu princípio aqui é o motivo errôneo envolvido quando a observação dos festivais santos fica sendo parte da adoração defendida em Colossos como reconhecimento dos ‘elementos do universo’, os poderes astrais que dirigem o curso das estrelas e regulam o calendário. Devem, portanto, ser aplacados”.[4]
Nossos irmãos evangélicos costumam usar também Isaías 1:13 e Oséias 2:11 para “apoiar” a abolição do sábado. Porém, uma leitura simples e contextual de tais textos revela que Deus está sendo contra não as festividades que Ele mesmo estabeleceu, mas sim contra o culto hipócrita, que desvincula a adoração do estilo de vida.
Desse modo, independente da interpretação que usemos para Colossenses 2:16, o fato é que Paulo em hipótese alguma está menosprezando a observância de um dia santificado por Deus na criação (Gênesis 2:1-3), celebrado por ele mesmo “segundo seu costume” (Atos 17:2), até mesmo em territórios pagãos, onde não havia sinagogas judaicas (Atos 16:13).
A observância do sábado, quando feita da maneira correta e não legalista (ou liberal), nos recorda que só podemos ser pessoas melhores por meio da graça de Deus, não por nossas próprias obras que são comparadas a “trapo de imundícia” (Isaías 64:6):
“E também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o Senhor que os santifica” (Ezequiel 20:12).
A doutrina do sábado nos mostra que somos justificados e santificados pela fé em Cristo (Atos 26:18), não por nosso comportamento. Uma vida obediente não é mais do que o resultado da transformação efetuada pelo Espírito ao longo de toda a vida (Hebreus 8:10). Vida essa que terá altos e baixos enquanto não formos libertos da presença do pecado no momento da glorificação (cf. 1Coríntios 15).
Queira você ou não, o mandamento do sábado continua em vigor, e sua obediência a este eterno preceito divino (Mateus 5:17-19) não lhe torna aceito (a) diante de Deus. Gosto dos paradoxos divinos porque nos tornam humildes e dependentes do estudo sério de Sua Palavra, se quisermos entendê-los devidamente.
[1] Veja Ron du Preez, Judging the Sabbath: Discovering What Can’t Be Found in Colossians 2:16 (Berrien Springs, MI: Andrews University, 2008).
[2] Samuele Bacchiocchi, The Sabbath in the New Testament: answers to questions (Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1985), p. 108-117.
[3] Por sua vez, Kenneth A. Strand sugere que Paulo pudesse estar “usando um dispositivo literário comum de paralelismo invertido, partindo de festas anuais para mensais e depois retornando às festas anuais” (ver Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012], p. 563). Todavia, o referido teólogo não fecha a questão, reconhecendo que as demais interpretações também são possíveis. Mesmo assim, ele conclui: “[…] a bem comprovada prática de observar o sábado pelos apóstolos contraria frontalmente toda e qualquer tentativa de usar Colossenses 2:16 como evidência de que o sábado do sétimo dia foi ab-rogado” (Ibidem, 564).
[4] Ralph P. Martin, Colossenses e Filemon – Introdução e Comentário (São Paulo: Vida Nova, 1984), p. 100, 101.




O relato da criação de homem e mulher em Gênesis 1 e 2 guarda uma série de aspectos interessantes. Em Gênesis 1:26-27, a descrição da criação do primeiro casal é feita de maneira a ressaltar a relação deles com DEUS. Em Gênesis 2:5-7 e 2:18-22, a estrutura do texto indica que o objetivo é descrever a relação deles entre si e com a criação.
A criação do homem (no sentido de ser humano), no capítulo 1 de Gênesis, segue o padrão literário da seção (1:1-2:3). Primeiramente uma espécie de anúncio do que será criado e, logo em seguida (geralmente com o uso de mesmo verbo e expressões semelhantes), o relato do que foi criado. Assim, em Gênesis 1:26 o anúncio é feito de modo a focar na função que ele (ser humano) teria: ser à imagem e semelhança de DEUS. Dentre as várias possibilidades que esta expressão pode ter, uma que parece carregar um sentido mais próximo ao texto logo em seguida é a de que ao homem foi delegado o poder de representar a DEUS na criação. Isto, porque após dizer que criaria o homem à Sua imagem e semelhança, a função deste homem é descrita como sendo “dominar sobre a criação”. Após a criação do homem (ser humano – אדם), a ordem divina dada a ele, é além de dominar (רדה), subjugar (כּבשׁ) as outras criaturas. Esta ideia de domínio é a única que difere o homem das outras criaturas, já que para ambos (homem e criaturas) também é ordenado que cresçam e se multipliquem e encham a terra.
A fala divina em Gênesis 1:28 ecoa a de Gênesis 1:26, pois em ambos há a ideia de domínio sobre os animais, inclusive com o uso da mesma raiz hebraica, רדה. Existe ecos também do quinto dia, com a repetição dos imperativos de Gênesis 1:22: frutificar, multiplicar e encher. Entretanto, em 1:28 há o acréscimo da ordem de subjugar a terra. Basicamente, o ser humano, criado a “imagem e semelhança” de Deus, deverá subjugar a terra e dominar sobre os seres viventes.
A raiz usada para falar da sujeição da terra é כּבשׁ, que aparece catorze vezes na Bíblia Hebraica. É uma raiz semítica e ocorre em muitas línguas semitas, como acádico, canaanita, árabe, etc. Em quase todas apresenta o mesmo significado do hebraico: subjugar, dominar.
As ocorrências de subjugar podem ser divididas em quatro grupos pelo objeto ao qual se dirige o verbo. O elemento comum ao qual o verbo se refere no primeiro grupo é a terra e é formado pelos seguintes textos: Gênesis 1:28, Números 32:22, 29; Josué 18:1; 1 Crônicas 28:18. Tirando Gênesis 1:28, já visto, e que se trata de uma referência mais geral, todos os outros falam de uma terra específica conquistada nas batalhas.
Terra subjugada
Em Números 32:22, repetido em 32:29, o assunto é a divisão futura da terra e é feito um acordo com os filhos de Rúben e de Gade para que eles se juntassem ao resto do povo na conquista da terra de Canaã e quando a mesma fosse, por fim, subjugada, eles poderiam possuí-la. Josué 18:1 lida exatamente com a divisão da terra de Canaã e, já que naquele momento boa parte dela estava subjugada, Josué resolve dividi-la com as tribos que ainda não tinham recebido sua herança. A ideia sugestiva nestes textos é de que a terra está subjugada porque Deus a entregaria (e em Josué, entregou) a Israel e cumpriria sua promessa.
Por fim, nos mesmos moldes, está I Crônicas 22:18. Na fala de Davi para Salomão, onde ele discursa sobre a incumbência da construção do Templo, agora que toda a terra estava “subjugada” e em “paz”. A raiz כּבשׁ também pode estar conectada a nações e isso ocorre apenas uma vez, em 2 Samuel 8:11. Trata-se da narrativa de diversas vitórias militares de Davi e de tudo que ele ia consagrando a Deus de “todas nações que subjugava”, culminando com o final do verso 14: “e o Senhor dava vitórias a Davi, por onde quer que ia”. Há, portanto, a relação entre “subjugar” e o agir divino no mesmo contexto: Davi subjuga as nações porque Deus vai lhe dando vitórias.
Um terceiro uso tem relação com quem desempenha a ação, Deus. Acontece em Miquéias 7:19, onde o profeta promete que Deus se voltará para o povo e terá misericórdia, irá “subjugar nossas iniquidades”. A ação de subjugar é, nesse caso, não só mais abstrata que nos outros, como é feita por Deus. Em Zacarias 9:15, num oráculo de castigo às nações e a promessa de um rei para Sião, YHWH garante proteção e vitória sobre os que combatem com fundas, pois esses serão subjugados por ele. Deus subjuga homens maus, inimigos de Israel. Aqui, o uso de “subjugar” é uma ação concreta executada por Deus. Em todos os outros versos a ação de subjugar está envolvida com alguma promessa de Deus, ou ordem dele, mas somente nesses dois versos aparece executada por ele.
O grupo mais numeroso é o que trata de “subjugar” outros homens (ou mulher – Ester 7:8). Em II Crônicas 28:10, após uma guerra entre Israel e Judá, Israel vitorioso leva homens cativos e é repreendido pelo profeta Oded por “subjugar os filhos de Judá”, tornando-os em escravos, levando Deus a irar-se contra Israel. Na ocorrência dupla de Jeremias 34, versos 11 e 16, o contexto é de opressão também. Judá havia resolvido arrepender-se e liberar os escravos, mas volta atrás e retoma a escravidão logo em seguida, subjugando-os contra a vontade divina. Amós 8:4 é um oráculo contra Israel porque gosta de subjugar os miseráveis. Ainda nesse conjunto, Neemias 5:5 traz “subjugar” relacionado à escravidão, mas agora como fruto de uma reclamação dos israelitas dirigida a Neemias, dizendo que o projeto para a reconstrução de Jerusalém fez com que eles subjugassem os filhos e os tornassem escravos. Todos esses textos tratam da realidade da escravidão e usam a raiz כּבשׁ num sentido de opressão.
Ou seja, de maneira clara os verbos usados para descrever o domínio do ser humano sobre a criação é o senhorio completo dele sobre a mesma. O homem é a imagem e semelhança de Deus porque, como Deus é o Rei, Ele concede ao homem o poder de reinar. Isto significa que o princípio imago Dei deságua em imitatio Dei.

Bibliografia: 
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